domingo, fevereiro 12, 2012
sexta-feira, novembro 19, 2010
O SENTIDO DA VIDA
mas sei que nada do que vivemos tem sentido,
se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
colo que acolhe,
braço que envolve,
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que acaricia,
desejo que sacia,
amor que promove.
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não
seja nem curta, nem longa demais,
mas que seja intensa,
verdadeira,
pura...enquanto durar....”
Michell Ângelo Marques Araújo
Doutorando em Enfermagem,
Enfermeiro do Programa Saúde da Família-Fortaleza-CE,
Professor da Faculdade Católica Rainha do Sertão-Quixadá-CE
segunda-feira, fevereiro 01, 2010
quinta-feira, dezembro 24, 2009
NATAL
Menino Deus!
Não faltes, que me faltas
Neste inverno gelado.
Nesce nu e sagrado
No meu poema,
Se não tens um presépio
Mais agasalhado.
Nasce e fica comigo
Secretamente,
Até que eu, infiel, te denuncie
Aos Herodes do mundo.
Até que eu, incapaz
De me calar,
Devasse os versos e destrua a paz
Que agora sinto, só de te sonhar.
Miguel Torga
Coimbra, 24 de Dezembro de 1987
quarta-feira, junho 24, 2009
(Margaret G. Hutchison,1997)
It would be very hard to find a nurse who saw only the physical aspect of care as that which defines nursing. We all know that when a person is hurting emotionally, all sorts of physical ailments crop up. On the other hand, physical conditions can affect the mind and spirit. The nursing profession has traditionally viewed the person as holistic, though the term itself was only introduced into the nursing literature in the 1980s by Rogers, Parse, Newman and others. Today we speak of a person as a biopsychosocial unit.
quarta-feira, dezembro 24, 2008
segunda-feira, setembro 15, 2008
Notícias
- Jornadas de reflexão
"Trajectos e projectos da atenção ao espiritual nos cuidados de enfermagem"
Dias 13 e 14 de Novembro de 2008, em Lisboa
quinta-feira, setembro 04, 2008
Notícias
A vivência da espiritualidade da criança com doença oncológica,
quinta-feira, julho 24, 2008
Notícias
à Ana Cristina Caramelo Rego, pela brilhante defesa da sua dissertação de mestrado:
A atenção ao espiritual. Tradução e validação linguística e cultural da Spiritual Assessment Scale, um instrumento de avaliação espiritual.
Aconteceu hoje, na UCP, no Porto.
terça-feira, julho 01, 2008
Notícias
Ao João Mendes
À Célia Jordão
Ao José carlos Quaresma
Pelo registo definitivo dos seus projectos de doutoramento, cuja prova de avaliação decorreu hoje.
terça-feira, novembro 20, 2007
UMA RECEITA PARA O NATAL
Não hoje, que é o seu dia.
Não uma vez por ano,
como é mania,
mas sempre, dia-a-dia,
hora a hora, minuto a minuto
e na fracção do segundo.
È possível neste Mundo?
É. Presta atenção:
Não vou fazer-te um sermão,
antes dar-te uma receita.
Aproveita.
Não custa nada nem dá maçada.
Os seus ingredientes serão diferentes
dos habituais em casos tais.
Regista-os.
Ficarás a conhecê-los e não irás esquecê-los.
Pega no teu coração.
(será ele a tigela para receber a punção)
Deita-lhe muitos sorrisos,
bonitos e não altivos.
Bata bem para que saiam do fundo
e, lentamente,
se voltem para o Mundo.
Junta bastante carinho
para que o doce fique docinho.
Uma boa dose de amabilidade,
Outra igual de caridade.
Vinte de solidariedade,
outras tantas de compreensão,
de dádiva e de perdão.
Não ponhas sal, que faz mal.
Acrescenta frutos maduros,
assim puros,
como vêm da Natureza
e colocas na tua mesa.
Paciência e Amor,
põe bastante, por favor.
E não sejas negligente,
vai batendo e acrescentando sempre
boas pitadas de inteligência
e outras tantas de prudência.
Mas atenção, tens na mão
não dizeres e não fazeres
o que aches sem-razão.
Todo o cuidado é pouco.
Mexe devagarinho
para que tudo fique juntinho.
E não deixes nada acabar,
não esqueças de acrescentar,
dia-a-dia hora a hora,
minuto a minuto,
e na fracção do segundo.
E será Natal no Mundo,
se tu quiseres
e esta receita fizeres
e a toda a gente a deres.
Passa palavra!
É receita da minha lavra,
mas sei que resulta!
Ah, já me esquecia,
regista no papel:
Rega com molho de mel
quanto baste.
E mexe bem mexidinho,
devagarinho
para que o doce fique bem docinho.
Dá a provar a toda a gente,
mesmo a quem te seja indiferente.
Que se sirvam à vontade!
A tua bondade,
sem desplante,
fará mais, num instante!
É um doce sempre à mão
na tigela do teu coração.
E assim, se tu quiseres
e fizeres,
haverá em todos os corações,
mesmo nos mais resmungões,
um coração de Natal.
Sempre,
dia-a-dia,
hora a hora,
minuto a minuto
e na fracção do segundo,
será Natal em todo o Mundo!
Maria do Céu Nogueira
In: A UM Deus CONHECIDO
Contos de Natal
Ed Calígrafo
Novembro 2007, p. 39-42
[enviada pela AMÉLIA REGO, de Braga]
sexta-feira, novembro 09, 2007
respondendo aos desafios...
Deixo um desafio que circula na net - colocar on line o 5º parágrafo da página 161 dos livros que andas a ler.
Pois bem, no livro que ando a ler, a página 161 só tem 3 parágrafos e uma nota de rodapé. Nesta página inicia-se o capítulo 9 - Hermêutica do sofrimento de Is 53 na Patrística.
Não querendo deixar de responder, coloco aqui o 1º parágrafo.
Como vimos nos capítulos precedentes, o sofrimento constitui uma verdadeira 'pedra de toque' no que diz respeito ao judaísmo, tanto na sua mensagem acerca da relação com Deus como naquilo que concerne aos principais núcleos da sua doutrina. Podemos constatá-lo, de forma bem clara, na abordagem feita aos diversos movimentos e grupos que constituem o judaísmo intertestamentário e contemporâneo ao nascimento e expansão do cristianismo. Um dos elementos fundamentais que distancia a mensagem do NT daquelas que eram propostas pelas correntes judaicas de então passa certamente pela questão do sofrimento e da sua compreensão como 'espaço e força' redentora quem em Jesus Cristo assume uma dimensão de primeira grandeza.
IN: Lourenço, João Duarte, O Sofrimento no Pensamento Bíblico 'Releituras Hermêuticas de Isaías 53', Lisboa, Universidade Católica Editora, 2006
domingo, novembro 04, 2007
sábado, setembro 01, 2007
Hoje, especialmente para a Ana ...
E fico a pensar na "insensatez" de prometer... Isto é, de assumir a responsabilidade de realizar um acto ou assumir uma conduta no futuro, considerando a óbvia imponderabilidade do tempo não vivido... É por isso que a nossa capacidade de prometer define a nossa humanidade. Porque prometer exige a certeza da vontade.
Prometer exige a decisão de, aconteça o que acontecer, quaisquer que sejam as circunstâncias, agir de determinado modo. E só o ser humano, livre e responsável, é capaz de usar a sua autonomia para agir de acordo com a promessa feita.
Por isso, prometer amar para sempre, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, é um acto que só os seres verdadeiramente humanos são capazes de realizar. E com a consciência de que apenas os actos dependem da vontade, prometer amar alguém para sempre significa, apenas, prometer agir sempre de acordo com o amor...
Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e näo tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e näo tivesse amor, nada seria.
E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e näo tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
O amor é sofredor, é benigno; o amor näo é invejoso; o amor näo trata com leviandade, näo se ensoberbece.
Näo se porta com indecência, näo busca os seus interesses, näo se irrita, näo suspeita mal;
Näo folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor nunca falha.
[Coríntios 13, 1-8]
quarta-feira, julho 18, 2007
Reflexão (3)
WALDEMIR
Ninguém podia entender...
Por que é que Waldemir não morria ?
Com 9 anos de idade ele corria, subia em árvores, nadava em rios, brincava de pular cela, pega-pega, empinar pipa, bolinha de gude, bafo...
Com 10 anos ele caiu de cama. Um tumor muito maligno chamado Wilms o derrubou. Acabou a brincadeira... Não tinha mais jeito. Quando ele chegou ao hospital para ser internado já estava tudo tomado... Somente o que restava era esperar o fim de Waldemir.
Ele parecia um morto-vivo: a cor da pele estava acinzentada; os olhos sem brilho e sem vida, semi-abertos, somente deixavam aparecer o branco da esclerótica; a pele estava enrugada, pois Waldemir era só pele e ossos. Seu corpinho ficou frio, frio, pois tinha que permanecer numa tenda de oxigênio. A respiração era agônica, lenta, arrastada...
O tumor fez seu abdome ficar grande. Ao ser aberto na cirurgia (e fechado a seguir, pois nada podia ser feito) estava infectado. Waldemir passou a exalar então dois odores: o da morte e o da infecção.
Aí me perguntava: por que é que Waldemir não morre ?
A mãe de Waldemir ali, ao seu lado, também me perguntou: por que é que Deus “num” leva ?
Num esforço de reflexões frente àquele quadro triste e que estava matando a todos (não somente Waldemir) dia-a-dia, uma “voz interna” sussurrou ao meu ouvido: “- Vá até lá ! Pergunte se falta ele ver alguém”.
- Mãe... tem alguém que ele goste assim... muito ! E que ele não tenha ainda visto desde que ficou mais doente ?
A mãe pensou e uns segundos depois respondeu: “- Tem a vó dele. É a pessoa que ele mais gosta e ela também é muito ligada ao menino. Ela que criou ele. Foi ele ficar doente e ter que vir prá cidade prá ela também ficar de cama”.
- Tem jeito de trazer a avó até aqui ?
- ‘Tem jeito não... Nóis é do Mato Grosso... Num tem como pagar a passagem.’
Vaquinhas daqui e dali, listas de contribuições, uma super força da assistente social, enfermeiras, pessoal de enfermagem, médicos, pessoal da limpeza, da nutrição, ascensorista... Todo mundo !
- Tá aqui, mãe: o dinheiro das passagens de ida e de volta e mais um bocado prá pagar a hospedagem. “Tráz” a vó prá ver o Waldemir, tá ? E rápido !
Eram umas 2:30 da madrugada, uns três dias depois... O telefone tocou:
- Alô, aqui é do Registro. Tem uma senhora aqui dizendo que é a avó de um paciente internado... ahn... Waldemir...
- Manda subir já !!!
- Mas tá fora do horário de visita e...
- Eu autorizo. Assumo a total responsabilidade.
- Não quero rolo prá cima de mim.
- Se tiver rolo vai ser prá cima de MIM. Pode deixar. Manda subir e vê se vai rápido, OK ? É um caso de vida ou morte.
- Tá bom. Vou colocar aqui que foi você quem autorizou.
- Tenho cobertura até do Papa. Vai firme que o Criador tá a nosso favor nessa.
A avó de Waldemir chegou. Estava esperando por ela no corredor, em frente ao elevador. O elevador abriu as portas. Ela: simples, vestido de algodão florido, meias de lã, lenço na cabeça, óculos antigos, grossos e gastos, um sapato daqueles velhos, solas gastas, quase um chinelo.
- O Waldemir tá esperando a senhora. Olha... ele está muito mal... parece que não passa de hoje e...
- Pode deixar, filha... Eu sei como está o meu neto. Eu venho sentindo como ele está há muitos dias...
- Sentindo... como assim ?
- Eu sinto... só isso. Coisa de vó. Um dia cê vai entender, minha fia...
Ela entrou na enfermaria como se soubesse exatamente o que tinha a fazer, determinada, com um objetivo previamente traçado.
Foi em direção ao garoto que, a essa altura do campeonato nem abrir os olhos abria. Todos pensávamos que ele já estivesse em coma, pois não respondia a ordens verbais e muito pouco a outros estímulos.
- Fio... Aqui é a vó. Vim abençoá ocê prá poder ir em paz pros braços de Deus... Vai em paz, fio...
Waldemir abriu os olhos (de repente com vida - uma vida tão intensa quanto eu nunca havia visto naqueles olhos), virou a cabeça na direção da avó, sorriu (um sorriso de uma orelha a outra), apertou a mão dela e, ainda com o sorriso estampado no rosto, parou. Foi encontrar-se com o Criador.
Waldemir estava esperando a avó para se despedir deste mundo.
Por quê não percebemos isso antes ? Será que ficamos embotados ao nos preocuparmos tanto com as “possibilidades científicas controladas” que nos esquecemos de notar as coisas realmente importantes (e nada controladas cientificamente), em termos humanos ?
A serviço de quem estamos no hospital trabalhando ?
Pelo menos foi maravilhoso perceber o esforço de toda a equipe para reunir o dinheiro para trazer a avó de Waldemir.
Como acabou a história: ela nos agradeceu, beijou a face de cada um dos que estavam no quarto na hora (um médico residente, uma auxiliar de enfermagem e eu), despediu-se e foi embora, num passo lento e arrastado pelo corredor, em meio à escuridão da noite. A mãe de Waldemir saiu atrás dela e perguntou se não queria ir com ela para a pensão onde estavam hospedados. Ela disse que não. Havia um ônibus de volta em quatro horas e ela iria voltar.
Sua missão estava cumprida. Nada mais tinha a fazer aqui.
A última coisa que vi foi a porta do elevador fechando-se e aquele rosto forte, com muitas rugas, moreno, marcado pelo sol que o castigou pelos anos a fio de trabalho na roça. Um rosto forte e, ao mesmo tempo, seguro de si, experiente, meigo e cheio de fé: uma fé inabalável nos desígnios de Deus. Uma fé invejável !
Enfermeira, médico, auxiliar: lágrimas contidas nos olhos vermelhos. Mãe chorando baixinho frente ao inevitável.
Avó: nem uma lágrima externa.
Mais um dos anjos que encontrei em meu caminho.
Separata do livro: SÁ, Ana Cristina de, O cuidado do emocional em saúde. 2.ed. São Paulo: Robe, 2003.
Obrigada, Ana Cristina!
Quem quer comentar?
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sábado, março 24, 2007
Resultados (3)
É hoje consensual que a Espiritualidade afecta as respostas humanas em relação à doença, sendo um factor importante a ter em conta no acompanhamento e tratamento dos clientes e seus familiares ou pessoas significativas.
No entanto, esta abordagem tende ainda a ser vista com alguma incredulidade por alguns profissionais de saúde, o que restringe o potencial da intervenção passível de ser alcançado. Os Enfermeiros, na minha opinião, continuam a ser os profissionais de Saúde melhores habilitados a realizarem este acompanhamento, quer no seu diagnóstico, quer no seu respectivo tratamento.
Não há actualmente falta de literatura sobre esta temática, mas antes uma ausência de divulgação dos artigos científicos já publicados, estando o seu acesso limitado aos que dispõem de assinaturas ou aos que têm facultado a acesso às bases de dados.
É por isso que considero importante relatar essas experiências, de forma a que a abordagem da Espiritualidade pelos Enfermeiros seja cada vez mais profissionalizante...
Em anterior artigo neste blog, tive o grato prazer de ver publicado um comentário sobre um artigo que relatava o desenvolvimento de um Modelo de Apoio Espiritual a clientes e seus significativos em situação de Doença Crítica. Considero a criação destes modelos de grande importância, pois esta abordagem necessita de ser científica, e não limitada à subjectividade de cada um.
No entanto, é igualmente imprescindível perceber as necessidades e os percursos dos clientes que necessitam de Apoio Espiritual, de forma a que a nossa intervenção atinja os resultados desejados.
Desta forma, apresento aqui o meu comentário a um artigo de P. Mcgrath (*), publicado no European Journal of Cancer Care (2004). O autor colaborou num estudo patrocinado pelo "Queensland Cancer Fund" (na Austrália) que, durante dois anos, pretendeu perceber a relevância da Espiritualidade e da Dor Espiritual nos doentes hospitalizados, nos seus cuidadores, nos profissionais de saúde, nos sobreviventes e nos doentes sob tratamento. O estudo realizado pelo autor abordou só os clientes sobreviventes com diagnósticos hematológicos (Leucemia, Linfomas, Mielomas). Segundo o autor "os pacientes com estes diagnósticos clínicos enfrentam um potencial risco de vida associado a tratamentos invasivos, agressivos, que se extendem por longos períodos de tempo" (tradução livre). Estes clientes aceitaram colaborar no estudo e serem submetidos a entrevistas.
Os resultados apresentados pelo autor referem que todos os participantes no estudo descreveram a sua experiência como doentes como uma Jornada Espiritual que teve consequências directas no seu crescimento pessoal e no seu "sentido de vida". Esta descrição surgiu num contexto em que a maioria dos participantes não tinham actividade religiosa nem necessariamente uma crença em Deus ou na Vida após a Morte. É referido pelo autor que os doentes referiam "sentir-se protegidos, sentirem-se escolhidos para encontrarem um sentido para a sua vida, mas sem referência a crenças ou a vivências religiosas" (tradução livre).
Para mim, estes resultados funcionam como um alerta, pois implica que todos os clientes em situação de doença grave podem necessitar de cuidados espirituais, independentemente da sua opção religiosa ou convicções e crenças.
Outro resultado referido é que os doentes submetidos a tratamentos agressivos com risco de vida, tornam-se mais conscientes da fragilidade da vida humana e da sua própria mortalidade.
É ainda descrito que os clientes sentem ser "salvos" por uma razão, o que os leva a considerar a existência de um "poder". É referido pelo autor que "o sentir-se escolhido é acompanhado pelo sentir-se protegido, pelo que mesmo quando chegar o fim (leia-se morte...) este decorrerá favoravelmente" (tradução livre). Esta conclusão, para mim, implica que os cuidados espirituais não estão condicionados pelos prognósticos clínicos.
É ainda relatado que "os participantes indicaram que uma aproximação espiritual à doença e ao tratamento foi útil e providenciou que esta fosse observada de uma forma positiva" (tradução livre). Esta conclusão reforça o papel importante que os profissionais de saúde podem ter no acompanhamento destes clientes.
Sem retirar importância à restante equipa multidisciplinar, reforço a minha convicção de que os Enfermeiros se encontram em condições para estar na vanguarda no acompanhamento destas necessidades.
Obviamente, este artigo é suficientemente rico em resultados e deve merecer uma leitura mais aprofundada pelos interessados no tema. Por mim, pretendi apenas salientar algumas conclusões, que a serem tidas em conta, podem ajudar a melhorar os resultados dos nossos cuidados.
Carlos Cargaleiro
(*) Mcgrath, P. - Reflections on Serious Illness as Spiritual Journey by Survivors of Haematological Malignancies. European Journal of Cancer Care, nº 13, 2004, pág.227-237.
sexta-feira, fevereiro 02, 2007
Reflexão (2)
Porque devem os Enfermeiros interessar-se pela Espiritualidade, incluindo-a como dimensão de cuidado?
Todos nós independentemente das nossas crenças, convicções, rituais, somos seres espirituais. Mesmo os que dizem não acreditar, mesmo os que dizem não praticar...
Falo por mim, que não pratico.
É de esperar que Enfermeiros que sejam crentes e que pratiquem estejam mais predispostos a aceitar esta dimensão nos seus cuidados. Será de esperar inclusive que as experiências vivenciadas os enriqueçam na sua espiritualidade.
Mas não deve ser esse o fulcro da questão. Não deve importar no que os enfermeiros acreditam, mais sim no que os seus doentes e seus familiares crêem.
Como ajudar um idoso que teve um AVC, na sua reabilitação, se este deixou de ter esperança no seu tratamento?...
Como ajudar um doente com cancro, a fazer quimioterapia paliativa, a enfrentar o seu sofrimento, cada vez mais crescente?...
Como ajudar uma filha, que vê a sua mãe com uma doença degenerativa, perdendo cada vez mais funções?...
As intervenções a efectuar não podem ser baseadas na subjectividade, fruto de uma inspiração de momento... devem ser como todas as outras intervenções de enfermagem, científicas.
É necessário saber mais.
Se tivermos receio de abordar esta temática (que é privada e íntima, como outras...) por vergonha, receio do ridículo... não será por isso que os problemas não estarão lá, não será por isso que os doentes e suas famílias não continuarão a sofrer, não será por isso que os enfermeiros se sentirão melhor.
É óbvio que nem todos os doentes terão a sua dimensão espiritual afectada e precisarão de cuidados de enfermagem, mas é indispensável que quem deles necessite os tenha... e intervir nesta dimensão implica contribuir para a sua saúde em geral, como é reconhecido inclusive pela OMS.
É nisto que acredito, é nisto que tenho Fé...
Carlos Cargaleiro
sexta-feira, janeiro 05, 2007
Escutar os outros (5)
Hannah More
sábado, dezembro 30, 2006
Escutar os outros (4)
Albert Einstein
quarta-feira, dezembro 27, 2006
Narrativas (5)
2. Um dia inteiro no Hospital, desde as 09h30. Acompanho-o para mais uma cirurgia depois de ter sido detectado um carcinoma. Inicialmente, mostrava-se calmo. Com o decorrer das horas, vai sendo notória a ansiedade em crescendo. Os receios de ser detectado mais do que já se sabe, manifestam-se sob a forma de perguntas retóricas. A perplexidade sobre o resultado de uma tal intervenção médica vai substituindo o riso por um olhar cada vez mais fixo num horizonte abstracto. Manifesta-se cada vez mais apreensivo e já não suporta tanta espera, pois são já 16h30. De repente, entra no quarto um enfermeiro de serviço ao “talhante”, com uma maca sobre rodas e chama pelo doente. Deitado sob um lençol branco, a caminho do bloco operatório, olha-me e diz - «Agora é que é...!». Coloquei a minha mão direita na sua cabeça e sorri-lhe, acenando a cabeça como quem diz - «Não temas. Espero aqui por ti.» E esperei no quarto, em silêncio, orando por ele, conversando com Deus a propósito de tudo. Eram 19h30 e uma enfermeira veio informar-me de que a operação foi bem sucedida e ele estava agora no recobro. Acrescentou ainda que o médico cirurgião viria para falar comigo. Fiquei aguardando. Agora estava eu ansioso. Desejava saber o que o médico teria visto por dentro dele, martirizado por uma terrível surpresa que atentava contra a sua qualidade de vida. Ele nunca entendeu a perda da vida como uma desgraça, pois a sua fé conduz os seus passos para a eternidade com Deus. Mas enquanto viver neste mundo, do lado de cá da passagem, luta por uma existência qualificada, gostosa e o menos dorida possível. Voltei a casa com ele no pensamento e no coração da amizade.
3. Desde ontem, a noite toda, mais a manhã até às 12h00 no Serviço de Cuidados Intensivos (no Hospital falavam-me em “recobro”), passou sem dores e sem dormir. Faltou-lhe o habitual comprimido que o sossega sonolento. Fui visitá-lo quase de imediato quando soube que já estava no seu quarto. Encontrei-o sorridente, a voz um pouquinho rouca, os olhos vivaces num rosto limpo, deitado, com um lençol apenas a tapar-lhe o corpo, qual corporal estendido sobre o altar para Aquele que se entregou por nós, o Salvador, Jesus Cristo. Vi dois drenos pelos quais escorriam sangue e uma água que parecia leitosa. Um penso enorme cobria grande parte do seu pescoço, o lugar de intervenção do “talhante”. Disse-me de imediato que não tinha dores e estava bem, apesar de tudo. Gostou imenso das flores que lhe ofereci. Entre elas, um girassol, com que se identifica, sempre voltado para Deus. Conversámos sobre as perspectivas de sair dali no dia seguinte e o tratamento a continuar. Chegou o médico, observou-lhe os drenos, viu por detrás do enorme penso, e soltou secamente - «Isto está bom. Coloque gelo sobre o corte, e amanhã já o mando para casa. Esteja sossegado, pois está tudo bem. Quanto ao que lhe retirámos, vai para análise. Numa observação macroscópica, julgo que é apenas aquele gânglio positivo. Mas só depois da análise microscópica é que saberemos com certeza o que encontrámos. Para já, estou confiante que limpámos tudo e que não deixámos lá nada de mal. Mas... depois veremos! Até amanhã.» Olhámo-nos e entendemo-nos sem palavras. Cúmplices no temor por causa do tumor e companheiros de uma mesma esperança por causa da única fé. No dia seguinte veio comigo para casa.
Frei Luís de Oliveira
terça-feira, novembro 28, 2006
Narrativas (4)
[enviado por Frei Luís de Oliveira, ofm]
sábado, novembro 25, 2006
Teoria (3)
A saúde espiritual, no processo global do cuidar, foi abordada por Dufner e Grun.
Os autores apontam algumas pistas para caracterizar uma espiritualidade como «saudável». São elas:
Mistagógica e não moralizadora
Mistagógica quando introduz ou inicia o indivíduo no mistério de Deus e no mistério da pessoa.
A moralizante tem como principal objectivo evitar as faltas e os pecados. Parte do ideal de perfeição moral e está em permanente perigo de criar escrúpulos de consciência.
Libertadora e não asfixiante
Uma espiritualidade saudável tende a introduzir o ser humano numa vivência de Liberdade: a liberdade dos filhos de Deus. A liberdade interior, que se consegue por uma ascese espiritual, é o único local onde se consegue a libertação dos factores exteriores condicionantes, nomeadamente as expectativas e exigências que são impostas.
Criadora de unidade e não de divisão
Uma espiritualidade saudável implica na relação com os outros com sentimentos fraternos.
O indivíduo sente-se profundamente solidário com cada ser humano: nas suas limitações e fragilidades, e no desejo de salvação.
Quando uma «espiritualidade» classifica as pessoas em crentes e não crentes, entre ortodoxos e hereges, entre piedosos e depravados, entre bons e maus, está a dar uma mostra clara de que é uma espiritualidade a precisar de cura.
Uma espiritualidade de unidade valoriza o sentido das relações interpessoais
A vida espiritual saudável precisa de boas relações humanas, cordiais, relaxadas, nas quais se possa dedicar aos outros o próprio tempo.
Uma amizade autêntica e profunda fertiliza a vida espiritual.
Encarnada e não separada da realidade
Uma espiritualidade sã capacita a pessoa para, a diário, fazer bem as suas coisas, superando as dificuldades inevitáveis do trabalho e do contexto social.
Se se busca na espiritualidade uma fuga à realidade, está no bom caminho para “adoecer no espírito”.
Que procura Deus e não os seus consolos
O cultivar a vida espiritual tem como objectivo ter experiências espirituais.
Mas há o perigo de se ficar pelas vivências e sentimentos, que acabam por ser o mais importante, relegando a questão do sentido – e Deus – para um segundo lugar.
As experiências isoladas nada dizem da qualidade da vida espiritual. Esta demonstra-se no caminho do amor dado e recebido nas interligações fraternas, e consequente compromisso.
Global e não excluente
Uma espiritualidade saudável contempla a totalidade da pessoa, todas as suas dimensões:
- entendimento e vontade;
- coração e sentimentos;
- espírito e corpo;
- consciente e inconsciente .
Tudo deve ser abrangido pela vida espiritual.
Humilde e não orgulhosa
A humildade é o melhor critério para discernir da saúde de uma vida espiritual.
“A humildade é a base e o fundamento de todas as virtudes e sem ela não há nenhuma que o seja” (Cervantes).
In LA SALUD COMO TAREA ESPIRITUAL
DUFNER, MEINRAD y GRUN, ANSELM
NARCEA, S.A. DE EDICIONES
ISBN: 8427713320
[enviado por L.M. FIGUEIREDO RODRIGUES]
terça-feira, novembro 07, 2006
Resultados (2)
No "Critical Care Nurse" de Dezembro de 2005, o artigo "Intensive Spiritual Care"[1] realiza esse objectivo. Descreve uma situação de internamento numa Unidade de Cuidados Intensivos de uma doente de opção religiosa Budista, estando o seu estado crítico e havendo barreiras de comunicação com a família por esta não falar bem Inglês (não posso aqui deixar passar a analogia com a situação portuguesa, com o aumento do número de imigrantes com outras linguas-mãe e confissões religiosas...).
Para a prestação de cuidados de Enfermagem, foi sentido pelos autores do artigo a necessidade da existência de um Modelo de Apoio Espiritual, tenso sido proposto o modelo de Fitchett de 7 Dimensões.
As Dimensões propostas por Fitchett são [tradução livre]:
1 - Crenças e Significados - Missão pessoal ou religiosa, a justificação dos eventos ou circunstâncias, a percepção do significado da vida;
2 - Autoridade e Orientação - Individuo ou grupo em que a pessoa ou a sua família deposita confiança e procura aconselhamento, recursos (textos religiosos) a que os doentes ou as suas famílias possam recorrer;
3 - Experiências e Emoções - Percepções do evento ou da circunstância associada à doença, suas consequências emocionais face à experiência;
4 - Comunidade - Grupo formal ou informal que partilha crenças e rituais comuns;
5 - Rituais e Práticas - Actividades significativas e tradições específicas;
6 - Coragem e Crescimento - dúvidas, as mudanças ocorridas nas suas vidas e os desafios enfrentados;
7 - Vocação e Consequências - decisões morais e éticas que manifestam a m resposta ao chamamento das suas crenças.
A reflectir...
[Enviado por CARLOS CARGALEIRO]
_________________
[1] Johnson, TD - Intensive Spiritual Care. A Case Study. Critical Care Nurse, Vol 25, nº 6, Dez 2005:20-27
terça-feira, outubro 03, 2006
Teoria (2)
“A religiosidade popular aparece-nos como um conjunto de comportamentos, ritos e gestos religiosos de um povo, caracterizados pela simplicidade que, dentro da bipolaridade «religião oficial/religião praticada», manifestam, por um lado, a sua relação com o divino, e por outro, a sua contextura sócio-cultural portadora de elementos étnicos e de «desvios» inconscientes”.
In LIMA, José Da Silva – Deus, Não Tenho Nada contra : Socialidades e Eclesialidade no Destino do Alto – Minho: Faculdade Teologia Porto, (Dezembro) 1994. (Biblioteca Humanística e Teológica) ISBN 972-9290-09-1
[enviado por L. M. FIGUEIREDO RODRIGUES]
sexta-feira, setembro 29, 2006
Escutar os outros (3)
Da mesma forma que não se pode curar os olhos sem a cabeça,
Ou a cabeça sem o corpo
Também não de deve tentar curar o corpo sem a alma.
Pois a parte nunca pode ficar boa,
Se o todo não estiver bem
Platão
[enviado por J.C.Quaresma]