sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Reflexão (2)

Recebi há dois dias um e-mail de uma colega, que me deixou a pensar...
Porque devem os Enfermeiros interessar-se pela Espiritualidade, incluindo-a como dimensão de cuidado?
Todos nós independentemente das nossas crenças, convicções, rituais, somos seres espirituais. Mesmo os que dizem não acreditar, mesmo os que dizem não praticar...
Falo por mim, que não pratico.
É de esperar que Enfermeiros que sejam crentes e que pratiquem estejam mais predispostos a aceitar esta dimensão nos seus cuidados. Será de esperar inclusive que as experiências vivenciadas os enriqueçam na sua espiritualidade.
Mas não deve ser esse o fulcro da questão. Não deve importar no que os enfermeiros acreditam, mais sim no que os seus doentes e seus familiares crêem.
Como ajudar um idoso que teve um AVC, na sua reabilitação, se este deixou de ter esperança no seu tratamento?...
Como ajudar um doente com cancro, a fazer quimioterapia paliativa, a enfrentar o seu sofrimento, cada vez mais crescente?...
Como ajudar uma filha, que vê a sua mãe com uma doença degenerativa, perdendo cada vez mais funções?...
As intervenções a efectuar não podem ser baseadas na subjectividade, fruto de uma inspiração de momento... devem ser como todas as outras intervenções de enfermagem, científicas.
É necessário saber mais.
Se tivermos receio de abordar esta temática (que é privada e íntima, como outras...) por vergonha, receio do ridículo... não será por isso que os problemas não estarão lá, não será por isso que os doentes e suas famílias não continuarão a sofrer, não será por isso que os enfermeiros se sentirão melhor.
É óbvio que nem todos os doentes terão a sua dimensão espiritual afectada e precisarão de cuidados de enfermagem, mas é indispensável que quem deles necessite os tenha... e intervir nesta dimensão implica contribuir para a sua saúde em geral, como é reconhecido inclusive pela OMS.
É nisto que acredito, é nisto que tenho Fé...

Carlos Cargaleiro

2 comentários:

Maria da Luz disse...

Gostei deste artigo.
Como enfermeira que sou e pela longa experiência que tenho em acompanhamento de pacientes em estado terminal considero que mesmo aqueles pacientes que não acreditam em nada podem necesssitar num momento qualquer da vida, ouvir falar de espiritualidade.
Pouco importa quanto a mim, se a enfermeira é católica, protestante budista, muçulmana etc.
O que conta aqui é prestar cuidados a um paciente que necesssita disto ou daquilo, eu já vi uma enfermeira protestante a acompanhar um doente católico e a rezar uma avé Mariacom ele.
Também já vi uma enfermeira católica a acompanhar um paciente sem relegião.
Quanto a mim o que conta é o amor incondicional que se dá nessse momento.
Por outro lado não importa a religião que temos, o que conta é termos conhecimento das religiões básicas para pudermos ser intervenientes e ajudarmos no momento exacto.
Quanto á pessoa que presta estes cuidados tudo depende de quem a doente escolheu.
Se não estivermos em medida de preastar estes cuidados, é nosso dever propormos alguém que seja competente na matéria

Anónimo disse...

E, quando sabemos e cremos que há sempre algures uma luz forte, a nossa esperança permanece. A sombra é só tipo um "refúgio", pois a tendência do ser humano é caminhar para a luz. Cada qual, na sua individualidade, busca a sua luz.

luzdecristal